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A Medicina do Futuro Chegou. No começo do século 19, alguém que passasse dos 35 anos já podia ser considerado um sortudo. Em apenas 150 anos, a expectativa de vida no mundo quase dobrou, marcando 62 anos em 1950. De lá para cá, o número cresce aceleradamente.

Agora um novo conjunto de descobertas e técnicas que começam a despontar em empresas, startups e universidades — como remédios que tratam apenas as células doentes, edição genética, robótica e inteligência artificial — nos levará a um capítulo inédito na história: até o final deste século, segundo dados da ONU, o mundo terá mais de 21 milhões de pessoas com 100 anos ou mais, e o Brasil ampliará sua população de centenários em mais de 110 vezes, para mais de 1,5 milhão. Com as novas tecnologias, os bebês que nascem agora viverão cada vez mais e chegarão à velhice cada vez mais saudáveis.

Infelizmente a tecnologia e avanços nos conhecimentos científicos não encontram o mesmo entusiasmo naqueles que deveriam promover a saúde. Hoje em dia, é muito mais fácil fazer ataques e apontamentos sobre aqueles colegas que divergem da maioria e acreditar no conhecimento tradicionalmente ensinado do que se debruçar sobre evidências pujantes e se aprofundar no reconhecimento do novo, afinal o novo é estranho e o aprendizado é um processo doloroso, contudo, altamente recompensador.

Na Medicina, temos vários exemplos de como este comportamento pode atrasar o conhecimento científico como, por exemplo, o do médico Semmelweis. A despeito de várias publicações de resultados onde lavar as mãos reduziu a mortalidade para menos de 1%, as observações de Semmelweis entraram em conflito com as opiniões científicas e médicas estabelecidas da época e suas idéias foram rejeitadas pela comunidade médica.

Semmelweis não forneceu nenhuma explicação científica aceitável para suas descobertas, e alguns médicos ficaram ofendidos com a sugestão de que deveriam lavar as mãos. A prática de Semmelweis ganhou ampla aceitação apenas anos após sua morte, com o reconhecimento dos microorganismos na gênese de várias doenças infecciosas.

Outro exemplo mais recente de como o novo pode assustar foi a aprovação do uso da Telemedicina. Muitos médicos se sentiram ameaçados sobre pretexto de que perderiam o contato com o paciente, criando inclusive, abaixo-assinados sobre o tema.

Ora, a possibilidade de aproximação e comunicação mesmo virtual, na impossibilidade de contato físico, pode significar justamente o contrário, e permite ao paciente maior segurança e acompanhamento do seu caso. Contudo, vale lembrar que o atropelamento da aprovação, por conta da pandemia, no uso da Telemedicina pelos órgãos competentes sendo que isto era uma discussão já pautada há anos causa realmente indignação e mostra novamente como o avanço encontra entraves importantes.

Ainda sob esta ótica, percebemos que a Medicina baseada em evidências, aquela na qual só o que é estudado através de estudos com pacientes dispostos aleatoriamente, com controle através de placebo – algo difícil de ser estruturado – é a verdade absoluta, esta sendo substituída pela Medicina personalizada, chamada de medicina do futuro. O conhecimento, sobretudo sobre o genoma humano, mostra que muitas intervenções inclusive cirúrgicas podem não ter o mesmo resultado a depender da carga genética do indivíduo.

Por exemplo, um grupo de pesquisadores do Hospital Geral de Massachusetts publicou um estudo demonstrando que a quantidade de peso que se perdia após uma cirurgia gástrica estava relacionada a um gene específico no cromossomo 15. Indivíduos com duas cópias desse gene perderam, em média, 40% do peso, enquanto os que tinham uma cópia do gene apresentaram uma perda de 33%. O único indivíduo da pesquisa que não apresentava esse gene perdeu menos de 30% do peso.

Desta forma, encarar o paciente como um indivíduo único, com todas as suas particularidades físicas e psicológicas é fundamental no sucesso terapêutico e se sobrepõe ao estritamente comprovado cientificamente. Obviamente precisamos levar em consideração a confiabilidade e o rigor científico das publicações e isto deve nos servir como guia para o tratamento mais seguro ao paciente, mas isto não deve significar o uso de antolhos e uma visão tacanha da Medicina em relação ao novo. A Medicina do Futuro.

A Medicina preventiva encontra ainda mais estes problemas. Definir uma doença ou não e seu tratamento é muito mais simples do que estipular se algo pode ser usado em caráter preventivo ou não. Você certamente já ouviu do seu médico que uma alimentação saudável, dormir bem, não fumar ou beber em excesso e se hidratar, faz bem à saúde, e isto é verdade, mas é senso comum.

A Medicina moderna deve fazer mais. Todos os avanços de conhecimento teórico, robóticos, de diagnóstico, nanotecnologia e genéticos precisam ser ferramentas preciosas para os médicos se anteverem a doença. De nada adianta o aumento da expectativa de vida se ela estiver atrelada a medicações e procedimentos crônicos. Precisamos garantir a vocês, pacientes, um envelhecimento saudável e que seja anterior a doença. Na Medicina do futuro não se trata de adicionar anos a vida e sim vida aos anos que lhe restam e é necessário estarmos prontos e abertos a ela.

Escrito por Felipe Cezar Dias – CRM/PR 34055

Referência:

www.wikipedia.org/wiki/Ignaz_Semmelweis

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