Que precisamos nos proteger do Sol todos sabem, mas ainda assim é comum encontrarmos pessoas que não aderiram ao uso do protetor solar com regularidade.
Diante das várias opções de protetores solares e algumas dúvidas que chegam até mim, selecionei algumas perguntas e pontos a fim tornar mais concreta a necessidade de fotoproteção e a escolha de produtos mais fácil. Veja algumas a seguir:
– Há diferença na incidência de radiação solar entre diferentes localidade?
Sem dúvida. A radiação solar sofre influência de alguns fatores. Por exemplo, a camada de Ozônio é a principal absorvedora da radiação ultravioleta, e ela é encontrada em menor quantidade em regiões de baixa latitude.
Todavia, ela está sendo totalmente destruída na região dos pólos, o que aumenta a radiação que chega a superfície. Também observamos que quanto maior a altitude, maior a quantidade de radiação, já que há menos atmosfera para absorvê-la.
Outros fatores são as nuvens escuras e profundas que podem absorver quase a totalidade da radiação e as partículas de poluição que também absorvem parte dela. Já superfícies muito brancas como neve e areia, são capazes de refletir a radiação, aumentando a exposição.
– Posso confiar no índice UV de aplicativo do celular?
Sim. O índice UV leva em consideração todas as variáveis apontadas relacionadas a chegada da radiação a superfície. Nesta escala, entre 1-2 é considerado baixo e acima de 6, alto.
– O sol do meio-dia é realmente o mais perigoso?
Sim. Em uma situação de céu claro, quanto mais “alto” o Sol estiver no céu, maiores os níveis de radiação UV. Isto é, quanto mais distante o Sol está do horizonte, menor o caminho óptico que a radiação tem de atravessar na atmosfera.
Nessas condições, a radiação sofre menos interações com gases e particulados e, consequentemente, é menos atenuada. Portanto, em horários próximos ao meio-dia solar, a radiação UV atinge seus valores mais elevados durante o dia.
O mesmo raciocínio pode ser utilizado para avaliar a variação dos fluxos de radiação UV em relação à estação do ano. No verão, o Sol atinge posições mais elevadas em relação ao horizonte do que no inverno e, portanto, os fluxos de radiação UV são mais intensos.
– Devo usar protetor mesmo em casa ou escritório?
Sabemos que as lâmpadas não emitem radiação UV, portanto, não induzem a formação do câncer de pele. Por outro lado, a luz visível faz parte do que chamamos de espectro fotobiológico, ou seja, tem interação com a nossa pele. Isto é particularmente importante em doenças como o melasma, e os filtros com cor, neste sentido, assumem papel preponderante para a proteção mais adequada. Mais estudos são necessários a respeito da indução de radicais livres pela luz visível capaz de alterar o colágeno, por exemplo, e deve ser levado em consideração o papel de reflexão da luz em ambientes com janelas.
– O sol pode causar herpes?
Na verdade não. O que acontece é que a radiação UV causa uma imunossupressão que pode afetar pele, órgãos internos, tecidos linfáticos e sanguíneos.
Ela altera a função e diminui o número principalmente células responsáveis por apresentar microorganismos estranhos para células de defesa. Isso leva, a grosso modo, a uma menor imunidade, que induz o aparecimento de infecções latentes virais por exemplo, e também é um dos fatores que permite o surgimento de câncer de pele.
– Como os protetores agem?
Estruturalmente, os filtros ultravioleta podem ser compostos orgânicos ou inorgânicos. Os ativos orgânicos (ou filtros químicos) absorvem a energia da radiação UV, promovendo uma alteração em sua estrutura molecular.
Os ativos inorgânicos (ou filtros físicos) têm origem mineral e promovem a reflexão da radiação UV para o exterior do tecido. Sua ação está diretamente relacionada ao tamanho de partícula refletora podendo causar brilho excessivo e aspecto esbranquiçado.
– Qual a melhor preparação?
As principais formulações disponíveis são: as emulsões (loção fluida) que apresentam baixa untuosidade, produzem efeito refrescante, secam com rapidez e podem ser facilmente laváveis com água.
As preparações em gel-creme, muito empregadas em formulações fotoprotetoras, especialmente em países tropicais, por apresentarem o efeito sensorial bom, não sendo untuosas ou pegajosas, sendo importantes inclusive para pele oleosa por aceitarem a incorporação de sequestrantes de gordura.
Além disso, os sprays, que possuem aspecto untuoso e devem ser reservados a momentos de reaplicação do fotoprotetor. E, por fim, os pós e base que são produtos cosméticos destinados à maquiagem, reduzindo o brilho da pele, uniformizando cor e textura, além de protegerem das radiações solares.
– Seleção de protetores para condições específicas
Pele sensível e rosácea: produtos que apresentem no rótulo “indicado para pele sensível”. Geralmente com dióxido de titânio. Optar por preparações menos oleosas e não alcoólicas como o gel creme. Sem fragrância.
Melasma: Amplo espectro, preferência maior que FPS 55. Proteção contra luz visível, com cor.
Acne: Veículos em loções, géis ou géis-creme. Evitar os protetores inorgânicos (físicos). Procurar produtos específicos para pele oleosa.
– O que significa FPS?
O FPS relaciona-se a razão entre a dose de radiação mínima para induzir vermelhidão na pele com e sem protetor. Desta forma, um indivíduo que aplicasse um fotoprotetor com FPS 30, poderia se expor 30 vezes mais até produzir o mesmo padrão de vermelhidão que ele produziria sem o uso do protetor solar.
Mas vale lembrar que, apesar de usarmos esta referência, sabemos que o espectro da radiação responsável pelo câncer de pele não é exatamente igual ao espectro da queimadura e, além disso, a quantidade de energia suficiente para produzir alterações moleculares do DNA é menor do que a dose de vermelhidão mínima.
– É verdade que acima do FPS 30 há pouco ganho na fotoproteção?
Um conceito difundido nos anos 90 que levava em consideração um quesito equivocado revelava que acima do FPS 30 havia pouca diferença na proteção. Isto já caiu por terra. Hoje, compreendemos melhor a forma de atuação dos protetores e, sem sombra de dúvidas, FPS maiores produzem proteções maiores relevantes contra a radiação. Ademais, sabemos que as pessoas utilizam cerca de 30-50% da dose recomendada para garantia do FPS, assim, maiores proteções podem minimizar menores quantidades.
– É exagero a reaplicação?
A reaplicação do protetor solar é bastante relevante já que é sabido que há um declínio do efeito protetor com o passar do tempo e da exposição ao Sol e aos fatores ambientais (roupas, toalhas, vento, água, entre outros). Esta queda de proteção pode variar bastante, a depender da formulação do protetor e das atividades exercidas pelo usuário.
Por ser difícil estimar, entende-se que o tempo de 2 horas seja o sugerido para uma recomendação geral à população, mesmo reconhecendo que, para alguns produtos e em algumas situações, o intervalo para reaplicação poderia ser mais espaçado.
– Apostar nas vitaminas orais?
Existe evidência de que algumas substâncias, quando administradas oralmente, poderiam exercer uma ação preventiva contra os danos cutâneos induzidos pela radiação UV sem causar efeitos adversos.
O mecanismo de ação é variado, atuando em diferentes etapas da sinalização, resultando em ação antioxidante, anti-inflamatória e imunomoduladora.
Dentre as substâncias mais estudadas para serem usadas junto com os fotoprotetores tópicos e com resultados consistentes estão: o uso combinado de vitamina C e E, betacaroteno, licopeno, astaxantina, pycnogenol e Polypodium leucotomos.
– E quanto a vitamina D?
Hoje, reconhecemos a vitamina D como um hormônio com diversas funções no organismo desde a manutenção da saúde óssea à imunidade. Sabemos que mais de 90% da vitamina D é produzida na pele, logo teoricamente o uso de protetor bloquearia esta produção, contudo os dados na literatura sobre esta interferência são controversos.
De qualquer forma, recomendações para a exposição “ideal”para fabricação de vitamina D e não uso de protetor parecem excessivamente simplificadas, dadas a complexidade de influências externas relativas a radiação que chega até cada um, como exposto anteriormente, e a individualidade de cada organismo na determinação final da síntese de vitamina D.
Ainda mais se considerarmos que em um país com altos níveis de insolação, como o Brasil, poucos minutos de exposição ao ambiente externo, qualquer que seja o clima, somente de mãos e face, seriam suficientes para a produção de vitamina D.
Além disso, observamos também um aumento no número de diagnósticos do câncer de pele, o mais comum do mundo, logo, a preocupação não deve ser pautada em exposição solar de menos e sim, em demasia. Ademais, constatada deficiência de vitamina D, esta é facilmente suplementada por via oral ou injetável, sendo relativamente barata.
Escrito por Felipe Cezar Dias – CRM/PR 34055
Referência:
Schalka S, Steiner D, Ravelli FN, Steiner T, Terena AC, Marçon CR, et al. Consenso Brasileiro de Fotoproteção. An Bras Dermatol. 2014;89(6 Supl 1):S6-75.
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